terça-feira, 18 de junho de 2013

Paulo Jacobsen, o arquiteto que desenha na imaginação e, além de casas e museus, cria ovelhas - Jornal O Globo

Paulo Jacobsen, o arquiteto que desenha na imaginação e, além de casas e museus, cria ovelhas

  • Ex-sócio de Claudio Bernardes, com quem projetou mais de 400 residências estilo capa de revista, ele se lança no desafio das grandes obras
  • Paulo também elabora novo modelo de cadeira e faz queijo especial na Serra de Petrópolis
Ludmilla de Lima (Email · Facebook · Twitter)
Publicado:
Atualizado:

Paulo Jacobsen sob o teto de bambu da sala de casa, cuja arquitetura é uma síntese do seu trabalho e do seu jeito de ser
Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Paulo Jacobsen sob o teto de bambu da sala de casa, cuja arquitetura é uma síntese do seu trabalho e do seu jeito de ser Leo Martins / Agência O Globo
RIO - A casa de Paulo Jacobsen em São Conrado é como um autorretrato do arquiteto. Integrada ao verde da Estrada das Canoas, a residência, construída por ele há 28 anos, revela características que se tornaram marcantes nos seus projetos. A construção é ampla e iluminada. O teto feito de bambus, sem cumeeira ou outros elementos aparentes sustentando a cobertura, dá um quê tropical ao espaço, uma espécie de “casa de índio”, como define Bernardo Jacobsen, filho e arquiteto. O endereço só tem dois quartos: um para Paulo — ou Cecedo, apelido que carrega desde a infância — e outro para sua mulher, Mônica. Mas Cecedo admite que nunca dorme sozinho. À noite, ele se manda para a cama da mulher. Jacobsen ainda detesta solidão quando o assunto é arquitetura. Todos os projetos que levam seu nome, incluindo o do Museu de Arte do Rio (MAR), foram criados em parceria.
— Nem em casa eu sei ficar sozinho — brinca Cecedo, que projetou mais de 400 casas ao lado de Claudio Bernardes, morto num acidente em 2001. — Quando você cria sozinho, pode cair no erro de ficar encantado com as próprias ideias. E o grande barato é que agora trabalho com meus filhos como sócios (Bernardo, de 32 anos, e Luiza, de 30, designer de novas mídias). Filho e sócio: adoro as duas coisas — conta o arquiteto carioca, de 58 anos, avô de Clara, de quase 1 ano, filha de Bernardo.
O sobrenome Jacobsen, herdado do avô paterno, é dinamarquês. Só que a relação entre Bernardes e os Jacobsens esteve mais para família italiana. A dupla com Claudio começou em 1974, após Cecedo voltar de uma temporada na Europa, onde estudou fotografia. A viagem veio de uma decepção na faculdade de arquitetura, na Santa Úrsula: no seu primeiro ano de curso, ele levou bomba porque, numa cadeira de plástica, fez um “rosto de argila revirado, com a língua para fora”. O professor não gostou da peça, achando que era um deboche. O tal mestre nunca lhe saiu da cabeça: chamado Aristides, ele usava jaleco branco e tinha um jeito ditatorial. O ano era 71 e Cecedo tinha 17 anos.
Talento para a abstração
Dois anos depois, tendo respirado ares mais libertários, voltou para se casar com Mônica, amor deixado no Rio. Para sustentar a família, resolveu encarar novamente a faculdade, concluída no Instituto Bennett, enquanto trabalhava com Claudio Bernardes. Jacobsen revela não ter o dom do desenho, tendo ido parar na arquitetura porque gostava de matemática e admirava artistas e arquitetos, colocados no mesmo patamar.
Talvez por esse lado meio artista, meio viajandão, seu processo criativo siga até hoje uma trilha própria, de caráter móvel e abstrato.
— A arquitetura dele não tem um conceito. Ele varia em função do cliente, do terreno, do que as pessoas querem fazer ali. Ele junta esse conjunto de necessidades com as sensações das pessoas e a relação delas com a natureza. Ele sabe se transpor para a casa, se materializar nos espaços, nas sombras, nas pedras, na luz — explica Bernardo.
Cecedo trabalhou por um curto período como estagiário de Sérgio Bernardes. Claudio, o filho de Sérgio, depois o chamaria para o seu escritório. A flexibilidade foi uma das marcas da dupla, que respeitava o gosto do cliente, sem deixar de lançar mão de técnicas originais, que iam do rústico ao high tech tropical, como escreve André Corrêa do Lago na abertura do livro “Claudio Bernardes & Paulo Jacobsen — Percurso de uma parceria na arquitetura”.
— Geralmente, os arquitetos têm uma assinatura muito forte. Mas, para mim, cada material tem seu lugar. Esta casa (das Canoas) poderia ser de concreto ou com estrutura metálica. Mas teria transparências e mobilidade de espaço. Hoje ela me serve de maneira diferente que há 28 anos. Isso vem muito do Claudio, essa preocupação com o não ser datado. A arquitetura tem uma continuação. Eu tento fazer isso — diz Cecedo, que se orgulha de soluções estruturais sofisticadas, como de uma casa em Itaipava que parece pendurada, pois a viga não é vista.
A parceria com Claudio foi brutalmente interrompida numa estrada de Mato Grosso do Sul, onde projetavam uma pousada em Bonito. O carro capotou e Claudio morreu na hora. Ainda internado no hospital, Cecedo fechou com novo sócio: Thiago, da terceira geração de arquitetos da família Bernardes. Os dois, mais Bernardo Jacobsen, na sociedade desde 2007, assinam a arquitetura do MAR, na Zona Portuária, cuja cobertura fluida ligando um prédio moderno e outro de estilo eclético já virou ícone na cidade.
A sociedade entre os Jacobsens e os Bernardes acabou, de forma mal resolvida, há pouco mais de um ano. Cecedo diz que os dois tinham diferenças: ele é mais equipe, enquanto Thiago seria introspectivo. Já Thiago deixa transparecer uma mágoa sobre a paternidade do MAR, que seria mais atribuída a Cecedo.
— Sobre ele, eu tenho muito mais a falar de amor do que de arquitetura. É uma pessoa que faz parte da minha família, a quem devo muito por ter sido meu parceiro e parceiro do meu pai — comenta Thiago, para quem Jacobsen e Claudio divulgaram para o mundo uma arquitetura tipicamente carioca, com destaque para a integração entre os espaços e a natureza.
O MAR, que nasceu da imaginação de um percurso que passa sob a onda da cobertura, foi o primeiro projeto público com o envolvimento de Jacobsen a sair do papel. Influenciado pelo filho, ele se vê desafiado a projetar escalas maiores. O escritório Jacobsen Arquitetura participa do concurso para um grande museu e biblioteca em Taiwan e, a convite, elabora o projeto de um museu da moda em Belo Horizonte.
Para Cecedo, o arquiteto “tem um olho que vaga”. Das ideias simples às mais malucas, ele vai anotando no papel. E assim funciona para diferentes possibilidades da profissão. No extremo oposto dos museus, ele se aventura no design de móveis, desenvolvendo agora uma cadeira cubo. Entre escalas pequenas e monumentais, ele não largou o que chama de “filé mignon da arquitetura, o seu lado mais humano”: as casas. Requisitado por endinheirados e famosos (Vik Muniz e Luciano Huck estão entre os clientes), há mais de 40 pedidos em curso no Rio e em São Paulo.
Vivendo na ponte aérea, ele ainda encontra tempo para criar... ovelhas. Elas são francesas, ficam no Vale das Videiras (Petrópolis), e o leite é usado na fabricação de um queijo raríssimo no Brasil, para poucos paladares e bolsos. O processo foi importado por Mônica. De todas as parcerias, a mais fiel e duradoura.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/paulo-jacobsen-arquiteto-que-desenha-na-imaginacao-alem-de-casas-museus-cria-ovelhas-8703308#ixzz2WZ1Xyu8J

Nenhum comentário:

Postar um comentário